sábado, 13 de agosto de 2011

Aprendizado na era digital

Novas Tecnologias


Yannik D´elboux

Jovens das gerações Y e Z estão mais acostumados a ser multitarefa, mas têm concentração distribuída em um universo recheado de estímulos; desafio do professor é captar a atenção do aluno do século XXI

Quantas coisas você está fazendo neste exato momento? Se está apenas lendo essa reportagem talvez você tenha mais de 30 anos. As gerações mais jovens, que nasceram ou cresceram na era digital, já são mais adaptadas à característica mais predominante da sociedade atual: ser multitarefa. As novas tecnologias, principalmente o celular, o computador e a internet, transformaram o mundo, a forma como as pessoas se relacionam, e, para alguns pesquisadores, estão modificando também o cérebro, além de mudarem definitivamente o processo de aprendizado. Entretanto, a escola continua na idade da pedra, ensinando as chamadas gerações Y e Z como fazia com nossos avós. Se o processo de mudança é lento, os professores podem ajudar a acelerar essa transformação buscando compreender como funciona o cérebro das crianças e dos adolescentes de hoje e se conectando às novas tecnologias para diminuir o abismo entre o mundo do século XXI e a escola.

Depois do Homo Sapiens, podemos estar diante do Homo Interneticus (como foi chamado pela rede de TV britânica BBC no documentário The Virtual Revolution) se os estudos do neurocientista Gary Small, pesquisador da Universidade da Califórnia (EUA), estiverem certos. Small acredita que desde quando o homem primitivo aprendeu como usar uma ferramenta o cérebro não sofria um impacto tão grande e significativo como ocorreu com o uso da internet. A enxurrada de estímulos aumenta as conexões cerebrais e acelera o processo de tomada de decisões. Mas da mesma maneira que escolhe rapidamente o que ver ou ler na internet, o nativo digital analisa se o que o professor está falando tem relevância e, consequentemente, se merece ou não sua atenção. Como então tornar o conteúdo em sala de aula relevante para a criança e o jovem acostumados a ter um universo de informações, cores e sons na ponta dos dedos? Só levar o computador para dentro da escola não é a resposta.



Cérebro

O primeiro passo para elaborar técnicas mais eficientes de aprendizado é tentar entender o desenvolvimento do cérebro da criança e do adolescente. Em cada fase da infância e da adolescência acontecem processos distintos e fundamentais para a evolução cerebral, com progressos diretamente relacionados à quantidade de estímulo. Apesar de o cérebro seguir uma programação biológica, existem outros fatores que influenciam a sua progressão. “Hoje sabemos que o aprendizado é um processo extremamente dinâmico com modificações exuberantes na química e estrutura cerebral, o que torna o educador um verdadeiro escultor do cérebro da criança”, afirma o neurologista da Infância e Adolescência, Marco Antônio Arruda.

As pesquisas de Gary Small apontam que o uso da internet aumenta a atividade cerebral, ativando mais áreas do cérebro do que durante a leitura de um livro. Ao ler, além da visão (córtex occipital), dos movimentos oculares (tronco cerebral e córtex parietal) e do equipamento responsável pelo processamento da linguagem (lobo frontal), são utilizadas áreas dedicadas ao julgamento (córtex pré-frontal) e gerenciamento das memórias (circuitos frontais e temporais). “Para procurarmos um termo no Google, por exemplo, precisamos, além dessas áreas, outros circuitos responsáveis pelo rastreamento ocular e tomada de decisão”, explica Arruda. Entretanto, para o médico, isso não significa que as novas tecnologias mudaram o funcionamento do cérebro, mas que áreas até então “adormecidas” estão sendo usadas.

Os alunos que cresceram pesquisando no Google, fazendo hiperlinks, navegando por múltiplas “janelas” no computador, conversando com vários amigos ao mesmo tempo por mensagens instantâneas e brincando no videogame, são, em geral, mais ágeis para processar conteúdos, tomar decisões e coordenar múltiplas tarefas, tendendo a serem mais interativos, mas com maior dificuldade de dedicar atenção exclusiva a alguma coisa. O fenômeno do mundo digital é recente e ainda não se conhece toda a extensão de seu impacto na mente e no comportamento dos jovens. Entretanto, especialistas têm observado que o Homo Interneticus, devido ao seu caráter mais recluso e mais voltado à realidade virtual, tem menos habilidades sociais, emocionais e com a linguagem. “Pesquisas recentes começam a revelar com mais clareza o impacto do uso do computador e da internet. Algumas revelam que o uso do computador não aumenta o léxico (vocabulário) das crianças e jovens”, destaca a psicóloga e neurocientista Elvira Souza Lima.

Segundo o neurologista Marco Arruda, também há estudos que mostram uma menor estimulação dos lobos frontais de indivíduos que cresceram neste contexto. É nessa região que ficam as funções executivas responsáveis por tarefas como estabelecer um objetivo, criar estratégias, planejar o futuro, monitorar ações, tomar decisões e avaliar o desempenho para realizar ajustes. Isso significa que as gerações atuais são mais imediatistas e vivem uma busca incessante de prazer a curto prazo. “Vejo cada vez mais a dificuldade deles em adiar recompensas”, ressalta. Em uma pesquisa que está sendo realizada pelo neurologista com oito mil crianças de 22 estados brasileiros, chamada de Projeto Atenção Brasil, foi verificado que crianças capazes de adiar recompensa apresentam 2,4 vezes mais chances de ter um desempenho escolar acima da média do que aquelas que não possuem a mesma capacidade.



Geração Y

Os nascidos entre 1980 e 2000 pertencem à chamada geração Y, à qual a capacidade de ser multitarefa é sempre associada. O consultor e administrador Sidnei Oliveira, especialista em desenvolvimento de novos talentos, programas educacionais e comportamentais, vê a questão por outro ângulo. Ele acredita que essa é uma demanda da sociedade atual, que pressiona todos os indivíduos a fazer tarefas simultaneamente. A diferença é que para o jovem isto é mais fácil. “A geração que nasceu de 1980 para cá já vive isso há muito mais tempo, então tem mais habilidade e intimidade com a tecnologia”, enfatiza.

Uma crítica constante à geração Y é com relação à falta de atenção e concentração. Oliveira acredita que esse aparente desinteresse do aluno de hoje, reclamação constante entre os professores, advém de três principais razões: da ausência de “eco” na atitude do professor, ou seja, o educador está distante do mundo do estudante; da exposição a um número maior de estímulos e possibilidades para prender sua atenção; e da diferença de foco, já que a atenção desse jovem é distribuída.

Outro aspecto destacado pelo professor de Comunicação Digital da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, José Carlos Rodrigues, é a influência da “snack culture”, ou seja, o grande consumo de informação, porém de forma superficial, no comportamento do aluno. É comum no meio digital a substituição de notícias por posts ou mensagens cada vez menores. “A ‘snack culture’ corrobora com a questão da falta de interesse em qualquer atividade que demande atenção exclusiva ou um aprofundamento maior sobre determinado assunto”.

Já se fala em geração Z para denominar os indivíduos nascidos a partir do ano 2000 ou de pais que também cresceram no mundo digital. Além de ser a próxima letra do alfabeto, alguns também associam a designação ao comando ctrl+Z (desfazer), isto é, essa seria a geração em que tudo pode ser refeito. Essa característica também pode ser observada nos cadernos da geração Y. O aluno, acostumado com o teclado, tem dificuldade em escrever à caneta. “A facilidade, no ambiente digital, em se refazer algo (apagar e escrever de novo) faz com que o pensamento sobre o que se está escrevendo seja mais rápido, porém com menor julgamento. Quando se fala, contudo, em escrever um texto à caneta, o que mais se vê são rasuras e textos reescritos diversas vezes. Isso porque o pensamento deste aluno não faz mais um filtro forte das ideias antes de elas serem externalizadas”, descreve Rodrigues.



Papel do professor

Finalmente, o que o educador pode fazer para prender a atenção do aluno da era digital? Como tornar a escola interessante? O que pode existir dentro da sala de aula que não esteja na internet? O professor ainda tem uma arma em mãos mais eficiente que qualquer web que possa surgir: o conhecimento. Mas não adianta querer simplesmente transmitir este conteúdo - se você é um professor orgulhoso do seu conhecimento e da sua experiência, ávido por falar por horas, no século XXI você está obsoleto. A função do educador no mundo digital é ajudar o aluno a construir conhecimento. Neste contexto, a professora e pesquisadora do programa de pós-graduação em Educação e do curso de graduação em Pedagogia da Unisinos, Eliane Schlemmer, afirma que “cada vez mais o professor vai ser fundamental, mas não o professor passador de conteúdo, o professor que problematiza, que instiga, que ajuda o aluno a construir seu conhecimento na interação com os demais e também com várias fontes de informação”.

A internet traz um grande volume de informações e os alunos conhecem os meios para buscá-las, mas não como organizá-las, filtrá-las, identificar sua relevância, o que pode ser usado e em qual contexto. É por esse motivo que o professor sempre será indispensável. Conectar-se às novas tecnologias é essencial para o docente compreender melhor o universo do seu interlocutor, porém não basta. “Não é a nova tecnologia que ensina. É o professor. A tecnologia é um dos meios de ensinar e traz sem dúvida, novas possibilidades para a docência. No momento há muita confusão entre tecnologia e conhecimento”, alerta a pesquisadora Elvira Lima.

A criança e o jovem da era digital estão acostumados a serem participativos, a exercerem como na web 2.0 o papel de co-criadores de conteúdo, além de também aprenderem ensinando aos colegas nas redes sociais. Tudo isso tem que ser levado em conta pelo educador que quer evoluir com seu tempo. O professor José Carlos Rodrigues também sugere trazer mais do mundo da internet para a sala de aula, pois acredita que refletindo a realidade dos alunos a escola será mais eficaz em sua missão de ensiná-los a pensar. “Estão vendo esse vídeo dos animais bêbados com amarula? Por que o álcool os deixa assim? Relacionar as conversas vigentes no mundo digital com o conteúdo é o caminho ideal para obter a atenção dos alunos e, mais do que isto, é relacionar o conteúdo ‘da matéria’ com algo que é absorvido por eles de uma forma espontânea”.



Texto publicado originalmente na edição de Julho de 2010 da revista Profissão Mestre

Yannik D´Elboux é repórter das revistas Profissão Mestre e Gestão Educacional. E-mail: yannik@humanaeditorial.com.br




Feliz Dia do Estudante

Recados para Orkut

Por quê?
Porque no dia 11 de agosto de 1827, D. Pedro instituiu no Brasil os primeiros cursos de ciências jurídicas e sociais do país. Ele fez isso para quem quisesse estudar não precisasse mais ir para Portugal ou Coimbra atrás de conhecimento.Cem anos depois, Celso Gand Lev propôs uma homenagem a todos estudantes do país. Desde 1927 comemora-se essa data.







Sem comentários:

Enviar um comentário

anúncio-texto