Foto: Getty Images
Especialista defende utilização das redes sociais como forma de prender atenção dos alunos nos conteúdos
Especialista defende utilização das redes sociais como forma de prender atenção dos alunos nos conteúdos
Com informações rápidas em 140 caracteres e com uma infinidade de imagens, vídeos e links online, o maior desafio dos educadores atualmente é criar mecanismos que prendam a atenção dos alunos nos conteúdos escolares. Alguns professores perceberam que a solução para conquistar os estudantes é levar a sala de aula para o principal meio de socialização dos jovens: as redes sociais.
Enquanto o professor explica o conteúdo no quadro negro, os alunos recebem pelo microblog Twitter atualizações com links de imagens e vídeos relacionados ao que é ensinado. Depois, os alunos têm a tarefa de buscar informações adicionais e tuitar a descoberta para o educador. Assim, a escola vence as fronteiras da sala de aula e proporciona a estudantes e professores interagirem presencial e virtualmente.
O cenário descrito acima é considerado ideal para José Armando Valente, pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Capinas (Unicamp). Segundo ele, é nas redes sociais que os jovens buscam notícias, atualizações e também se relacionam com amigos. Por que não fazer uso deste meio para que eles socializem com os professores e busquem informações sobre os conteúdos aprendidos em sala de aula?
Muitos profissionais decidiram colocar a ideia em prática e acabaram conquistando a atenção dos alunos. É o caso de Roberto Carlos de Souza, professor de literatura que criou um concurso de "twitteratura" na escola Crescer PHD, de Vitória (ES). O projeto, aplicado nas turmas de ensino fundamental, consistia em publicar pequenos contos de 140 caracteres no Twitter. "Antes de realizar a atividade, eu dei duas aulas sobre redes sociais e expliquei a diferença da linguagem e da escrita utilizadas na sala de aula para aquelas usadas nas redes sociais", afirma o educador.
De acordo com o professor, cerca de 80% dos alunos se envolveram com a tarefa proposta e passaram a gostar mais das aulas de português. "Sempre tem aqueles mais tímidos que preferem não participar. Mas a grande maioria adorou", diz. Neste semestre, todos os professores da escola Crescer PHD recebem treinamento para começar a fazer uso do Twitter e do Facebook como ferramentas de contato com os alunos fora da escola. "A ideia é estar sempre à disposição do aluno para tirar dúvidas, principalmente daqueles em fase de Enem e vestibular", conta Souza.
No Centro Educacional Charles Darwin, também de Vitória, a professora de português Erika Maria Saleme de Sá e Mota também está em contato com seus alunos fora dos limites da escola. Ela usa o Twitter para dar dicas de textos, livros, filmes ou para comentar algum conteúdo da semana. Mais do que complementar o que ensina em sala de aula, a professora aproveita as redes sociais para conhecer melhor seus alunos. "Usar as redes sociais é uma forma de me manter conectada com o mundo de meus alunos e, a partir daí, interagir, construir, reconstruir e mostrar a eles que o mundo virtual pode, e deve, ser bem utilizado", diz.
Para especialista, usos das redes sociais ainda é "tímido"
Valente, pesquisador de informática aplicada à educação, explica que ações como do Espírito Santo, infelizmente, são fatos isolados no Brasil. Segundo ele, o que se vê são tentativas frustradas e que, em grande parte, acontecem por falta de preparação dos educadores. "Em geral, o uso ainda é tímido. Normalmente, a única coisa que se vê são professores que criam blogs para complementar um assunto que não foi possível terminar em aula. Mas isso não cria nenhum tipo de interação, participação e interesse por parte dos alunos", opina.
Empresas de diferentes setores já se renderam ao uso do Twitter e Facebook, por ver nesses mecanismos um importante meio de comunicação com os clientes. A pergunta que fica é por que isso ainda não aconteceu nas instituições de ensino. Para Valente, a resposta é "uma mistura de preguiça com medo". Preguiça, pois este tipo de ferramenta de ensino exige uma mudança estrutural na grade curricular da escola e também uma preparação dos educadores. "O currículo que foi desenvolvido para o lápis e papel deve ser repensado para um currículo da era digital. Isso não significa mudar o conteúdo, mas sim como esse material é trabalhado", diz.
Outro fator que barra o uso de tecnologias nos colégios é o medo de fazer uso de algo que os alunos entendem mais que os professores. "No contexto das tecnologias, o aluno pode ser parceiro do professor e, juntos podem construir uma relação produtiva. O professor mantém seu papel de conhecedor do pedagógico, e o aluno, do aspecto tecnológico. Nessa parceria, o professor pode facilmente ir adquirindo conhecimentos que o ajudam a superar essa diferença", afirma Valente.
Estudantes não desejam "misturar" seu meio de socialização com estudos
Por acreditar no uso de tecnologias a favor do ensino, o professor de física Sérgio Lima, do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, criou uma rede social somente para os alunos do ensino médio. Com o nome AprendendoFísica, a rede social coloca professor e estudantes em contato constante. O objetivo é que todos possam tirar dúvidas e dividir links relacionados com a matéria dada em sala de aula.
Lima conta que a ideia de criar uma rede somente para isso veio depois que suas tentativas de usar Twitter e Facebook foram frustradas. "Os jovens não querem postar conteúdos educacionais em seus perfis. Eles não gostam de misturar as coisas", afirma. Mesmo com uma ferramenta exclusiva, ele sente falta de uma participação mais intensa e espontânea por parte dos estudantes. "Eles participam mais nas atividades que valem nota e pouco naquelas que não tem esse incentivo", afirma.
Contudo, Lima não desistiu do uso de blogs e redes sociais. "O que ocorre é uma maior variedade de oportunidades de aprender. Aqueles que, por algum motivo, não conseguem aprender apenas no tempo da escola podem agora, no seu próprio tempo, na interação com outros colegas ou com o conhecimento produzido na rede, captar o que não conseguiram na sala de aula", observa.
Ainda de acordo com Lima, uma escola voltada para a tecnologia, interatividade e redes sociais só será eficaz quando houver uma mudança na forma de pensar o colégio. "Da mesma forma que alguns educadores e diretores de ensino não aceitam essa mudança, estudantes também não a aceitam. Todos enxergam o colégio como um meio de aprendizado que está restrito à sala de aula. Os alunos não se interessam em continuar aprendendo em casa", conclui.
FONTE:
Enquanto o professor explica o conteúdo no quadro negro, os alunos recebem pelo microblog Twitter atualizações com links de imagens e vídeos relacionados ao que é ensinado. Depois, os alunos têm a tarefa de buscar informações adicionais e tuitar a descoberta para o educador. Assim, a escola vence as fronteiras da sala de aula e proporciona a estudantes e professores interagirem presencial e virtualmente.
O cenário descrito acima é considerado ideal para José Armando Valente, pesquisador do Núcleo de Informática Aplicada à Educação da Universidade de Capinas (Unicamp). Segundo ele, é nas redes sociais que os jovens buscam notícias, atualizações e também se relacionam com amigos. Por que não fazer uso deste meio para que eles socializem com os professores e busquem informações sobre os conteúdos aprendidos em sala de aula?
Muitos profissionais decidiram colocar a ideia em prática e acabaram conquistando a atenção dos alunos. É o caso de Roberto Carlos de Souza, professor de literatura que criou um concurso de "twitteratura" na escola Crescer PHD, de Vitória (ES). O projeto, aplicado nas turmas de ensino fundamental, consistia em publicar pequenos contos de 140 caracteres no Twitter. "Antes de realizar a atividade, eu dei duas aulas sobre redes sociais e expliquei a diferença da linguagem e da escrita utilizadas na sala de aula para aquelas usadas nas redes sociais", afirma o educador.
De acordo com o professor, cerca de 80% dos alunos se envolveram com a tarefa proposta e passaram a gostar mais das aulas de português. "Sempre tem aqueles mais tímidos que preferem não participar. Mas a grande maioria adorou", diz. Neste semestre, todos os professores da escola Crescer PHD recebem treinamento para começar a fazer uso do Twitter e do Facebook como ferramentas de contato com os alunos fora da escola. "A ideia é estar sempre à disposição do aluno para tirar dúvidas, principalmente daqueles em fase de Enem e vestibular", conta Souza.
No Centro Educacional Charles Darwin, também de Vitória, a professora de português Erika Maria Saleme de Sá e Mota também está em contato com seus alunos fora dos limites da escola. Ela usa o Twitter para dar dicas de textos, livros, filmes ou para comentar algum conteúdo da semana. Mais do que complementar o que ensina em sala de aula, a professora aproveita as redes sociais para conhecer melhor seus alunos. "Usar as redes sociais é uma forma de me manter conectada com o mundo de meus alunos e, a partir daí, interagir, construir, reconstruir e mostrar a eles que o mundo virtual pode, e deve, ser bem utilizado", diz.
Para especialista, usos das redes sociais ainda é "tímido"
Valente, pesquisador de informática aplicada à educação, explica que ações como do Espírito Santo, infelizmente, são fatos isolados no Brasil. Segundo ele, o que se vê são tentativas frustradas e que, em grande parte, acontecem por falta de preparação dos educadores. "Em geral, o uso ainda é tímido. Normalmente, a única coisa que se vê são professores que criam blogs para complementar um assunto que não foi possível terminar em aula. Mas isso não cria nenhum tipo de interação, participação e interesse por parte dos alunos", opina.
Empresas de diferentes setores já se renderam ao uso do Twitter e Facebook, por ver nesses mecanismos um importante meio de comunicação com os clientes. A pergunta que fica é por que isso ainda não aconteceu nas instituições de ensino. Para Valente, a resposta é "uma mistura de preguiça com medo". Preguiça, pois este tipo de ferramenta de ensino exige uma mudança estrutural na grade curricular da escola e também uma preparação dos educadores. "O currículo que foi desenvolvido para o lápis e papel deve ser repensado para um currículo da era digital. Isso não significa mudar o conteúdo, mas sim como esse material é trabalhado", diz.
Outro fator que barra o uso de tecnologias nos colégios é o medo de fazer uso de algo que os alunos entendem mais que os professores. "No contexto das tecnologias, o aluno pode ser parceiro do professor e, juntos podem construir uma relação produtiva. O professor mantém seu papel de conhecedor do pedagógico, e o aluno, do aspecto tecnológico. Nessa parceria, o professor pode facilmente ir adquirindo conhecimentos que o ajudam a superar essa diferença", afirma Valente.
Estudantes não desejam "misturar" seu meio de socialização com estudos
Por acreditar no uso de tecnologias a favor do ensino, o professor de física Sérgio Lima, do Colégio Pedro II, do Rio de Janeiro, criou uma rede social somente para os alunos do ensino médio. Com o nome AprendendoFísica, a rede social coloca professor e estudantes em contato constante. O objetivo é que todos possam tirar dúvidas e dividir links relacionados com a matéria dada em sala de aula.
Lima conta que a ideia de criar uma rede somente para isso veio depois que suas tentativas de usar Twitter e Facebook foram frustradas. "Os jovens não querem postar conteúdos educacionais em seus perfis. Eles não gostam de misturar as coisas", afirma. Mesmo com uma ferramenta exclusiva, ele sente falta de uma participação mais intensa e espontânea por parte dos estudantes. "Eles participam mais nas atividades que valem nota e pouco naquelas que não tem esse incentivo", afirma.
Contudo, Lima não desistiu do uso de blogs e redes sociais. "O que ocorre é uma maior variedade de oportunidades de aprender. Aqueles que, por algum motivo, não conseguem aprender apenas no tempo da escola podem agora, no seu próprio tempo, na interação com outros colegas ou com o conhecimento produzido na rede, captar o que não conseguiram na sala de aula", observa.
Ainda de acordo com Lima, uma escola voltada para a tecnologia, interatividade e redes sociais só será eficaz quando houver uma mudança na forma de pensar o colégio. "Da mesma forma que alguns educadores e diretores de ensino não aceitam essa mudança, estudantes também não a aceitam. Todos enxergam o colégio como um meio de aprendizado que está restrito à sala de aula. Os alunos não se interessam em continuar aprendendo em casa", conclui.
FONTE:
http://noticias.terra.com.br/educacao/noticias
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