domingo, 19 de setembro de 2010

O ESTRESSE E OS PROFESSORES

 
 



A palavra estresse vem do inglês stress, que significa tensão. Simon L. Dolan, doutor em psicologia do trabalho, afirma que o estresse se manifesta através de sintomas psicológicos, somáticos e comportamentais. Dentre os sintomas psicológicos estão: ansiedade, irritabilidade, depressão, exaustão e esgotamento profissional; já os somáticos se expressam através de dores musculares, dermatites, disfunções gastrintestinais, tremores neurológicos, problemas cardíacos, pressão alta, pulsação acelerada, enxaquecas, sudoreses, problemas respiratórios e outros. Os sintomas comportamentais revelam-se por meio do tabagismo, alcoolismo, dependência de drogas, disfunções sexuais e do ganho ou perda de peso ( DOLAN, 2006: 45)

Atualmente tem crescido o número de pessoas que apresentam sintomas de estresse em razão do trabalho que realizam. Vários autores tentam explicar por que vem aumentando o desgaste físico e emocional dos profissionais das mais diversas áreas. O escritor Botsaris explica que a vida moderna e o estresse estão intimamente relacionados, é um mal que rouba a nossa energia, deteriora nossas relações e deixa-nos desprotegidos. Somos “sugados” pelo trabalho, “massacrados” pela rotina e “esmagados” por uma forte pressão ( 2004:18).

O mundo moderno nos apresenta inúmeros desafios, obriga-nos a assumirmos diversas responsabilidades e a representar diferentes papéis ao mesmo tempo. E isso muitas vezes, gera uma pressão difícil de suportar. Precisamos ser pais presentes, trabalhadores eficientes, cônjuges maravilhosos, bons filhos, amigos inesquecíveis e cidadãos exemplares. Maslach afirma que

As pessoas estão emocional, física e espiritualmente exaustas. As exigências do trabalho, da família e de tudo o que se encontra entre eles corroem a natureza e a energia. O desgaste físico e emocional está atingindo proporções epidêmicas ( 1999: 13).

O trabalho deveria ser fonte de realização e de prazer, porém muitas vezes tem se tornado o contrário. E infelizmente uma das classes trabalhistas que vêm apresentando um grande número de profissionais doentes e afastados do trabalho devido ao estresse prolongado que causa o desgaste físico e emocional, é a classe dos professores.

Os sintomas são inúmeros dentre os físicos: dores de cabeça constantes, dores musculares, cansaço, sudorese, problemas nas cordas vocais, problemas respiratórios, aperto no coração, insônia, tremedeira, sono constante, mal-estar. Já os sintomas emocionais e psicológicos são angústia, tristeza, vontade de chorar constante, agitação, agressividade, impaciência, desânimo, baixa auto-estima, pensamentos negativos, baixa produtividade e outros (DOLAN, p 45)

Mas o que será que tem causado tanto estresse nos professores? Sabemos que as condições de trabalho do professor podem ser um desses motivos, pois como Marlach afirma

O desgaste físico e emocional não é um problema das pessoas, mas do ambiente social em que elas trabalham. A estrutura e o funcionamento do local de trabalho, moldam a forma da interação das pessoas e a forma como elas realizam o seu trabalho. Quando o local de trabalho não reconhece o lado humano dessa atividade, o risco de desgaste cresce, trazendo com ele um preço bastante alto ( 1999:36).

O ambiente de trabalho do professor pode desencadear estresse porque nele o professor se depara com muitas situações conflitantes como, por exemplo: salas de aula com um número excessivo de alunos, falta de recursos e de uma estrutura física adequada para a realização do trabalho pedagógico, classes onde os alunos apresentam um alto nível de agressividade, violência e indisciplina, falta de apoio dos colegas e trabalho e da direção da escola.

Para o escritor Alex Botsaris, corpo e mente estão profundamente relacionados, por isso, todo o estresse físico causa algum estresse psíquico e vice-versa. Diante disto, quais seriam os motivos do aumento do estresse entre os profissionais? Ainda de acordo Botsaris um dos fatores que têm levado cada vez mais pessoas a se sentirem estressadas é a ampliação das responsabilidades que a sociedade atual nos impõe.

Os tempos atuais também se caracterizam, pelo aumento das exigências profissionais, além de um número maior de atividades e interações que encerram sérios compromissos. Somos levados a conhecer e administrar um maior número de itens na vida diária, como produtos de uso pessoal, utensílios domésticos, equipamentos de informática, Internet, contas bancárias e cartões de crédito. As telecomunicações trazem até nós, cada vez mais rápida e eficientemente, informações geradoras de tensão, originárias de todo o mundo. Solidão, competitividade e grandes responsabilidades resultam num mundo cada vez mais complexo para as pessoas, que lhes exige muito e, ao mesmo tempo, faz delas seres socialmente isolados ( BOTSARIS: 2003, p. 72)

Todas essas transformações que vêm ocorrendo na sociedade nos últimos anos exigem que os profissionais estejam a cada dia atualizando seus currículos, capacitando- se através de cursos, descobrindo o que há de mais novo em sua área específica; demonstrando novas habilidades como, por exemplo, a capacidade de resolver conflitos, de gerenciar situações inusitadas, de trabalhar em equipe, enfim de vencer as competições diárias que surgem no ambiente de trabalho moderno. De acordo com BOTSARIS “o cidadão do mundo atual encontra-se em situações em que a reação de estresse é desencadeada inúmeras vezes por dia. ( 2003:56)”

Outro motivo que gera estresse entre os profissionais é a competição presente hoje no ambiente de trabalho. Muitas vezes, o trabalhador não se sente um indivíduo, um ser humano com sentimentos, necessidades, fraquezas, mas sim uma máquina que precisa produzir cada vez mais, trazer lucros maiores para a empresa, caso contrário será substituído por outra melhor, mais capaz, mais eficiente, mais lucrativa. “Na lógica do mundo globalizado só existe espaço para os vencedores. A competição torna-se cada vez mais acirrada, desleal, predatória. Nesse ambiente, a mão que oferece ou pede uma ajuda pode ser uma armadilha ( BOTSARIS; 2003:71).

A competição é incentivada desde cedo nas escolas e nas famílias, ainda muito pequena a criança já aprende a ocupar o seu tempo para ser um adolescente bem preparado para o mercado de trabalho; desde cedo os estudantes são incentivados a ganhar nos jogos e brincadeiras, a vencer as competições escolares, a tirar as melhores notas. Hoje, algumas crianças freqüentam a escola num determinado período do dia e no outro elas freqüentam aulas de informáticas na segunda, aulas de inglês na terça, aulas de teatro ou pintura na quarta, aulas de balé ou natação na quinta e aulas de canto ou violão na sexta.

Por um lado isso é bom, mas por outro sabemos que a criança precisa brincar; aliás, não só as crianças, mas adolescentes, adultos, idosos, todos nós precisamos nos divertir, ter nossos momentos de lazer. Porém, o que percebemos é que desde cedo as crianças já são incentivadas a competir, a ganhar sempre; em conseqüência disso, elas já chegam à adolescência estressadas; e quando chega então o momento de decidirem o curso universitário para o qual irão prestar o vestibular muitos até adoecem devido à pressão, à cobrança que além dos pais, eles mesmo se submetem.

Hoje, os meios de comunicação possuem uma liberdade maior para disseminar suas idéias, para expor situações de conflitos vivenciadas em todas as partes do Brasil; a mídia possui um poder de convencimento imenso, principalmente através da televisão. A cada momento surge um ídolo para as novas gerações, surge uma nova atitude que deverá ser imitada por inúmeros jovens, surge em alguma novela um novo acessório que deverá ser usado por várias mulheres e assim surgem desde produtos que deverão ser consumidos até comportamentos que deverão ser imitados por pessoas que ainda não possuem um senso crítico suficiente para saber o que deve ou não servir de exemplo para suas vidas.

A sociedade mudou, a realidade social em que vivemos é totalmente diferente da realidade vivida por nossos avôs. O progresso científico trouxe transformações para todas as áreas do conhecimento, percebemos isto através das novas descobertas da medicina, da informatização das máquinas e dos serviços, do surgimento das inúmeras tecnologias, da globalização, da rapidez com a qual as informações chegam a todos os lugares do mundo devido à internet. E as modificações não se restringem a essa era digital, as representações sociais também foram afetadas.

Os pensamentos mudaram o modo de perceber a vida, a sociedade, a família, a escola, a saúde, o trabalho, a religião, a política; as concepções sobre casamento, divórcio, homossexualismo, machismo o papel da mulher na sociedade atual; a visão de mundo sobre cidadania, democracia, liberdade de expressão, direitos sociais sofreram alterações. BOTSARIS assevera que:

As mudanças profundas nos hábitos de vida e na interação com o meio ambiente, observadas na sociedade moderna, trouxeram para os homens o mau estresse. E o estresse acumulado, ou continuado, como prefiro denominar, é nocivo à saúde, porque exige muito do organismo sem permitir sua recuperação, gerando um enorme desgaste( 2003:61,62).

E como não poderia deixar de ser, se a sociedade mudou a educação também mudou; os professores mudaram, os alunos mais ainda, o ambiente escolar já não é mais o mesmo, novas concepções pedagógicas surgiram, novas metodologias de ensino foram adotadas, os objetivos da educação foram ampliados, novos parâmetros curriculares foram elaborados, a relação professor-aluno ganhou mais afetividade, o papel do professor sofreu alterações e a concepção de aluno que a escola deseja formar agora envolve não apenas aspectos cognitivos, mas também afetivos e emocionais.

Além de todas essas mudanças sociais que refletem dentro na sala de aula, podem existir outras causas que desencadeiam o estresse dos professores do ensino fundamental como, por exemplo: salas de aula superlotadas, falta de recursos pedagógicos, estruturas físicas das escolas inadequadas para a ministração das aulas, indisciplina dos alunos, violência na escola, excesso de trabalho, baixos salários, reclamações de pais, falta de apoio da direção, falta de reconhecimento e até mesmo conflitos com os próprios colegas de trabalho.

Todos esses problemas de uma forma ou de outra afetam o professor, provocando estresse, cansaço, raiva, frustração, desânimo, acomodação; causando desgastes físicos e emocionais, influenciando negativamente sua auto-estima, minando a sua satisfação profissional e o seu desejo de fazer um trabalho cada vez melhor. De acordo com MASLACH:

Quando não somos recompensados, tanto o trabalho que fazemos quanto nós mesmos, como trabalhadores, somos desvalorizados. Embora todos saibam que as recompensas são importantes, esse conhecimento, não se traduz necessariamente em ação. Recompensas monetárias são fáceis de receber e geralmente bem vindas, mas o dinheiro anda escasso atualmente. Ainda mais devastadora para os trabalhadores, é a perda do reconhecimento íntimo, que surge quando alguém se orgulha de fazer alguma coisa valiosa e importante para os outros, e de fazê-la bem feita (MASLACH, 1999:29).

De acordo com uma pesquisa divulgada pela Revista Nova Escola em abril deste ano, realizada em 2007 com 500 professores das redes públicas das capitais revelou que mais da metade dos entrevistados sofrem de estresse. Entre as queixas mais freqüentes estão dores musculares e mal-estar, nos casos mais sérios os sintomas acabam afastando os profissionais da sala de aula. Ainda de acordo com a pesquisa, a maior queixa dos professores é a dificuldade de relacionamento com os alunos; a falta de disciplina foi citada como o principal problema em sala de aula por 46% dos entrevistados. Não é incomum visitarmos algumas escolas e ao passarmos pelas salas de aula encontramos alunos em cima das mesas, gritando, dirigindo palavras de baixo calão aos colegas e professores e até mesmo partindo para a agressão física.

E a indisciplina é apenas um dos problemas vivenciados pelos professores no seu ambiente de trabalho que pode desencadear um desgaste físico e emocional. Afirma MASLACH que se as pessoas se sentem humilhadas ou constrangidas no trabalho, se não são valorizadas; sua auto-estima e seu senso de competência ficam ameaçados. As pessoas começam a se sentir alienadas no local de trabalho e podem até mesmo tentar ações destrutivas. Medo e ansiedade são duas emoções que contribuem para o desgaste físico e emocional. Esses sentimentos são prováveis especialmente quando falta controle sobre o trabalho e quando o ambiente é incerto e motivador (1999: 49). Ainda nesse sentido o autor ressalta que

Frustração e raiva são os traços emocionais característicos do desgaste físico e emocional. Você se sente frustrado porque está impedido de alcançar seus objetivos. Você não consegue ultrapassar os obstáculos que estão em seu caminho – ou porque não tem recursos suficientes para fazer o seu trabalho, ou porque lhe falta controle sobre ele. Você não recebe o reconhecimento que espera. Não é de se surpreender que você se sinta ineficiente. Mas você também se sente exausto como resultado do tempo e do esforço despendidos ( 1999: 49).

A pesquisadora Iône Menezes em uma de suas pesquisas publicadas sobre a síndrome de Burnot - síndrome causada por circunstâncias relativas às atividades profissionais que ocasiona sintomas físicos, comportamentais, afetivos e cognitivos, caracterizando-se pela exaustão emocional, falta de envolvimento pessoal no trabalho e despersonalização do indivíduo - relata a o depoimento do professor Fernando Pachi, de São Paulo. Eis o que ele diz:

“Acredito que a situação de maior estresse para o professor continua sendo a indisciplina em sala de aula. Mediar a relação com os alunos fica dez vezes mais desgastante em situações onde você tem que chamar a atenção, interromper a aula, pensar sempre como motivar os alunos, erguer o tom de voz. Tudo isso contribui ao longo do tempo para uma situação de estresse e desmotivação. Isso porque o foco é sempre motivar os alunos! Aí a cobrança interna também fica maior, e vem uma sensação de fracasso quando os resultados não são atingidos, ou seja, quando o curso não corre bem, por conta de uma interação em sala de aula mal resolvida.”

O depoimento desse professor confirma o que Zanelli ressalta:

“tanto fatores externos (condições de trabalho) quanto exigências físicas e mentais, ou outros aspectos relacionados à organização e ao conteúdo do trabalho como sobrecarga, conflitos e ambigüidade de papel, também são apontados como estressores responsáveis pelo estresse decorrente do trabalho. Com relação às condições ambientais, ruído, temperatura, vibração, iluminação e poluição têm sido classicamente apontadas como estressores produzidos no ambiente de trabalho (2004: 284-285)

Situações consideradas apenas pequenos detalhes pelos que não vivem a realidade da sala de aula, podem ser vistas como fatores de estresse para o professor que está desenvolvendo o trabalho pedagógico. Por exemplo: escola que não dispõem de material algum para o professor trabalhar que não seja o giz e o quadro. Ora, se o professor realmente é um profissional sério, isso irá inquietá-lo, ele terá que dar um jeito, improvisar, pedir emprestado, pedir doações ou ele mesmo, comprar materiais pedagógicos, com o próprio salário, para poder ministrar boas aulas. Isso é ou não é desgastante para um profissional?

O que fazer? Quais seriam as soluções possíveis para minimizar o estresse dos educadores? Como os professores podem enfrentar este problema da melhor maneira possível? Como vencer o desgaste físico e emocional adquiridos no ambiente de trabalho? Quais as medidas para prevenir o aparecimento do estresse? Que atitudes contribuiriam para uma melhor qualidade de vida dos profissionais da educação?



9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS



BOTSARIS, Alex. O Complexo de Atlas e Outras síndromes do Estresse Contemporâneo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003.

DOLAN,Silmon L. Estresse, auto-estima, saúde e trabalho. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.

LIPP, Marilda. O Stress do Professor. São Paulo: Papirus, 2002

LIPP, Marilda. Redução do Estresse na Sala de Aula. Disponível em: http://www.universia.com.br/mat/mat/.jsp?mat=. Acesso em 23 Out 2008

MASLACH, Cristina e LEITER, Michael P. Trabalho: Fonte de Prazer ou Desgaste? Guia para Vencer o Estresse na Empresa. Campinas, São Paulo: Papirus, 1999.

MENEZES, Iône Vasquez. Estresse do Professor - Síndrome de Burnout é Uma das Causas do Esgotamento Profissional de Docentes. Disponível em: http://www.universia.com.br/mat/mat/.jsp?mat=. Acesso em, 23 Out 2008

POLATO, Amanda. Remédios para o Professor e a Educação. Revista NOVA ESCOLA. Ano XXIII, Nr 211: Abril, 2008.

SELYE, H. Stress, a Tensão da Vida. São Paulo: Ibrasa, 1965

ZANELLI, José Carlos et all ; BASTOS, Antônio Virgílio Bittencourt ( ORG). Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/44792/1/Estresse-e-professores/pagina1.html#ixzz0wu5hYqiN



*Polyana Andreza
Graduada em Pedagogia- UFPE, especialista em Psicologia da eucação- FAFIRE.
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