domingo, 10 de julho de 2011

Amanda Gurgel recusa prêmio “Educador de Valor” oferecido por empresários


A professora Amanda Gurgel, que ficou conhecida após fazer um discurso na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte a respeito da situação da educação no Estado – que resultou num vídeo acessado por mais de um milhão de internautas no YouTube – recusou, no sábado 2, receber um prêmio oferecido em sua homenagem pela associação Pensamento Nacional de Bases Empresariais.
A professora e militante do PSTU Amanda Gurgel, de Natal (RN), enviou carta ao Pensamento Nacional das Bases Empresariais recusando o prêmio Educador de Valor que lhe foi conferido pelo júri do 19º Prêmio PNBE. “(…) Não posso aceitar esse prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo porque tenho lutado desde 2001 (…)”, afirma a professora na carta datada de 2 de julho e reproduzida no site do Centro dos Professores do Rio Grande do Sul. Ela observa que edições anteriores do prêmio, “evidenciando suas prioridades”, homenagearam a “Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.”
 
Mais uma vez a professora Amanda Gurgel está de parabéns pela sua conduta, e por aquilo que acredita.

Com certeza, cresce em todo o país a admiração por essa nordestina, gente do povo, que faz toda a diferença e que tem a educação não só como paixão, mas como algo sério e de valor pra todo o Brasil.
Mais uma vez ela mostrou a que veio, e tem demonstrado o respeito a educação, a qual se dedica, aos colegas e companheiros de profissão e a todos aqueles que hoje a tem como "porta voz " de todos os professores deste Brasil.

Parabéns Amanda! E valeu mais uma vez !

Sua atitude foi impecável!


Amanda Gurgel recusa prêmio “Educador de Valor” oferecido por empresários




A professora do Rio Grande do Norte, Amanda Gurgel, que ficou publicamente conhecida após denunciar no Youtube a precariedade da Educação Publica no país, recusou o prêmio oferecido pelo PNBE
(Pensamento Nacional das Bases Empresariais). Em seu Blog Amanda informa porque não aceitou o prêmio:

"Porque não aceitei o prêmio do PNBE

…Nesta segunda, o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio “Brasileiros de Valor 2011″. O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.

Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.

Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem `amigas da escola´”.
Amanda


Carta da Amanda Gurgel com os motivos

“Natal, 02 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”.

A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente.

Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação.

Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald’s, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado.

Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano.

Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público”(Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.

Saudações,
Professora Amanda Gurgel”.





 

RIO - A professora do Rio Grande do Norte Amanda Gurgel virou heroína da causa da classe, por melhores salários, nas redes sociais. Um vídeo no qual ela silencia os deputados do RN em audiência pública quando fala sobre a situação crítica da educação já tem mais de 54 mil visualizações no You Tube. Desde o começo da tarde desta quarta-feira (18) o nome "Amanda Gurgel" já está na lista brasileira dos Trending Topics, no Twitter.

Em seu depoimento, Amanda Gurgel acaba fazendo um resumo preciso sobre o quadro da educação no Brasil apresentando seu contracheque de R$ 930 reais. "Como as pessoas até agora, inclusive a secretária Bethania Ramalho, apresentaram números, e números são irrefutáveis, eu também vou fazê-lo. Apresento um número de três algarismos apenas, que é o do meu salário, de R$ 930".

A professora continua seu discurso dizendo que "os deputados deveriam estar todos constrangidos com a educação no estado do Rio Grande do Norte e no Brasil. Não aguentamos mais a fala de vocês pedindo para ter calma. Entra governo, sai governo, e nada muda. Precisamos que algo seja feito pelo estado e pelo Brasil. O que nós queremos agora é objetividade".


 

Ela participou do Domingão do Faustão (assista no player acima), na Rede Globo, para continuar sua luta pela melhoria no ensino do país e por condições mais dignas para os professores. “Eu acredito que faz parte do processo educacional ensinar a luta pelos seus direitos. Eu ensino meus alunos a lutarem, portanto eu tenho que ser a primeira”, afirmou Amanda. Ainda sobre as condições salariais, a professora foi direta: “O salário de um deputado só é suficiente para pagar o de 30 professores.” Em uma enquete realizada em todo país, 98% concorda com o discurso da professora.

Eis a íntrega de sua fala:



“Durante cada fala aqui eu pensava em como organizar a minha fala. Porque são tantas as questões a serem colocadas e tantas as angústias do dia a dia de quem está em sala de aula, que eu queria pelo menos conseguir sintetizar minimamente essas angústias.


“Como as pessoas sempre apresentam muitos números e dizem que eles são irrefutáveis, eu gostaria também de apresentar um número que é composto por três algarismos apenas, bem diferentes de tantos números que são apresentados aqui com tantos algarismos: é o número do meu salário, R$ 930, com nível superior e especialização.


“Eu perguntaria a todos aqui, mas só respondam se não ficarem constrangidos, se vocês conseguiriam sobreviver ou manter o padrão de vida que vocês mantêm, com esse salário. Certamente não conseguiriam.


“Não é suficiente nem para pagar a indumentária que os senhores e as senhoras utilizam para poder frequentar esta Casa. A minha fala não poderia partir de um ponto diferente, porque só quem está em sala de aula, só quem pega três ônibus por dia para chegar a seu local de trabalho é que pode falar com propriedade.


“Fora disso, qualquer consideração aqui é apenas para mascarar uma verdade visível a todo mundo: em nenhum governo, em nenhum momento no nosso Estado, na nossa cidade, no nosso país a educação foi uma prioridade.


“Então, me preocupa muitíssimo a posição da maioria, inclusive da secretária (de Educação) Betânia Ramalho, de não falarmos sobre a situação precária porque isso todo mundo já sabe.


“Como assim, não vamos falar da situação precária? Gente, estamos aceitando a condição precária da educação como uma fatalidade?


“Estão me colocando dentro de uma sala de aula com um giz e um quadro para salvar o Brasil, é isso?


“Salas de aulas superlotadas com os alunos entrando com uma carteira na cabeça porque não têm carteiras nas salas e sou eu a redentora do País? Não tenho condições, muito menos com o salário que recebo.


“A secretária disse que não podemos ser imediatistas, que precisamos pensar a longo prazo. Mas a minha necessidade de alimentação é imediata. A minha necessidade de transporte é imediata, a necessidade dos alunos de ter uma educação de qualidade é imediata.


“Eu gostaria de pedir aos senhores que se libertem dessa concepção extremamente equivocada, e digo isso com mais propriedade do que os grandes estudiosos: parem de associar a qualidade da educação com professor dentro da sala de aula.


“Não há como ter qualidade em educação com professores trabalhando em três turnos seguidos, multiplicando seus salários: R$ 930 de manhã, R$ 930 de tarde, R$ 930 de noite para poder sobreviver. Não é para andar com bolsa de marca nem para usar perfume francês.


“É para pagar a alimentação de seus filhos, para pagar a prestação de um carro que muitas vezes compram para se locomover mais rapidamente entre uma escola e outra.


“Não me sinto constrangida de apresentar meu contracheque, porque penso que o constrangimento deve ser de vocês.


“Lamento, mas deveriam todos estar constrangidos. Entra governo e sai governo e o que se solicita de nós é paciência e tolerância.


“Quero pedir à secretária paciência também porque nós não aguentamos mais esse discurso.


“Não podemos ser responsabilizados pelo caos que na verdade só se apresenta para a sociedade quando nós estamos em greve, mas que está lá todos os dias dentro da sala de aula, em todos os lugares.


“São muitas questões mais complexas que precisariam ser postas aqui. Mas infelizmente o tempo é curto e é isso que eu gostaria de dizer em nome dos meus colegas que pegam três ônibus para chegar ao local de trabalho, em nome dos estudantes que estão sem aula agora por causa da greve, mas que ficam sem aula por muitos outros motivos.”


Segundo as próprias palavras de Amanda, ela não pretende transformar-se em celebridade mas tão somente ser ouvida e assim poder contribuir para a categoria profissional a que pertence - a de professora.


"Sinto que é uma missão. Se eu conseguir mobilizar a categoria na internet e nas ruas para pressionar o governo, talvez eu tenha plantado uma semente que poderá, um dia, render frutos inéditos."


http://www.blogdaamanda.com.br/
 
Fontes:
O Globo , Blog do Robson PiresTODODIA - Blog ALCINDODESOUZA

1 comentário:

  1. Parabéns, Amanda! Como muito bem exposto, as Organizações, Fundações e campanhas que se dizem "amigas da escola" nada mais são do que a privatização do ensino e o fim da autonomia do professor!

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