Primeiro temos que considerar a existência da divisão sexual do trabalho, ou seja, atividades mais ligadas ao gênero feminino ou masculino; é claro que essa divisão felizmente está se tornando mais e mais nebulosa, já que as mulheres passam a ocupar postos tradicionalmente ligados ao “mundo masculino”, como altos cargos de chefia nas empresas, e os homens também se voltam para atividades muito próprias do “mundo feminino”, mas esses últimos num ritmo menos acelerado, já que são profissões menos remuneradas e que ocupam um status menor na sociedade, talvez justamente porque estão tão intimamente ligadas ao mundo feminino.
A educação é daqueles campos considerados como “área de cuidado” e, como tal, foi destinada à mulher, mesmo antes da revolução sexual ou das discussões mais acirradas sobre os direitos e a autonomia da mulher, observados a partir dos anos de 1960.
Quanto à classe social, quando olhamos em perspectiva histórica, as salas de aula eram o destino de muitas mulheres de classe média ou média alta e que, de certa forma, já rompiam, mesmo que timidamente, com o modelo posto no século 20 – já que é preciso lembrar que, no século 19, as mulheres exerciam atividades produtivas no interior das fábricas.
Dado esse fator, é preciso, num primeiro momento, observar a relação entre gênero e educação no Brasil. Notamos claramente uma mudança no perfil de quem ocupa a frente de uma sala de aula. Se antes tínhamos mulheres de classe média ou média alta, que viam nas salas de aula uma possibilidade de exercício profissional, o aumento no acesso aos bancos escolares, a desvalorização do professor, as más condições de trabalho, a facilidade no acesso ou os baixos custos das licenciaturas fizeram com que a área se tornasse cada vez menos atrativa e passasse a ser uma opção secundária ou a primeira forma de ascensão de parte de mulheres que vêm de famílias com baixa renda e escolaridade. Temos aí, portanto, uma primeira mudança, ou seja, de profissão voltada para a fruição de mulheres de classe média ou média alta, passou a ser uma profissão para aquelas que têm poucas opções para a ascensão social.
Outro fator que não pode, de forma alguma, ser desconsiderado são as diferenças de valorização dentro do magistério. Quanto mais ligado aos cuidados, como na educação Infantil, mais se nota a presença de mulheres, a menor valorização, a baixa renda e escolaridade. Quando vamos avançando para as séries do ensino médio e posteriormente o ensino superior, vemos a presença masculina aumentando sobre a feminina, notadamente no ensino superior que é o espaço, dentro do sistema escolar, que está menos ligado aos cuidados e mais voltado para a formação intelectual destinada a uma atividade produtiva. Em resumo, a avanço nos anos escolares que vai da educação básica – ensino infantil, fundamental e médio – até o ensino superior traz também uma mudança de perfil de quem está à sua frente, criando-se assim a dicotomia: de um lado temos a educação básica marcada pela baixa escolaridade, baixos salários, baixa especialidade e alta atuação de mulheres (sobretudo oriundas de famílias igualmente de baixa renda e escolaridade); e de outro a educação superior com profissionais de alta escolaridade, já que é preciso mais anos de estudo e dedicação para ocupar uma vaga, altos salários (quando comparados com os atuantes nos primeiros anos de formação), alta especialidade e maior atuação de homens. Nota-se, portanto, que o magistério não é uma carreira homogênea e que ela também expressa as diferenças de gênero postas na nossa sociedade.
Artigo de Karla Gobo enviado ao Jornal Virtual. Ela é doutoranda em Sociologia (UNICAMP), mestre em Ciência Política (USP), graduada em Ciências Sociais (UFPR), coordenadora e professora dos cursos de graduação em Ciência Política e Relações Internacionais do Grupo Uninter.
E-mail: karlagobo@grupouninter.com.br
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