Alto investimento não garante aprendizado
Estudo internacional revela que países com melhor desempenho não são os que mais gastam
Antônio Gois
O ECONOMISTA Gustavo Ioschpe lembra que gasto brasileiro com educação é igual à média dos países da OCDE
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No momento em que o Brasil planeja dar um grande salto no nível de
investimento em educação, convém analisar com calma como os países com
melhores resultados no Pisa (exame internacional que compara o
desempenho de alunos) utilizam os recursos disponíveis para traduzir
este esforço em efetivo aprendizado. Um informe publicado neste ano pela
OCDE, entidade que organiza o exame, revela que altos gastos não
garantem melhor qualidade do ensino.
O estudo comparou o desempenho de alunos em testes de leitura em 43
países com o nível de gasto por estudante de 6 a 15 anos. O Brasil, por
exemplo, aparece no levantamento com um gasto médio de 18 mil dólares
por aluno (numa comparação em que já é levada em conta o custo de vida
em cada país).
É, por exemplo, 44% a mais do que o verificado na Turquia. Os estudantes
turcos, no entanto, estão em média 52 pontos à frente dos brasileiros
na escala do Pisa, o que equivale a dizer que os brasileiros estão quase
dois anos atrasados em relação a eles em termos de aprendizado.
Apesar do contraexemplo brasileiro, para a OCDE, há uma relação mais
clara entre nível de gasto no ensino e melhores resultados no Pisa até
uma faixa de 35 mil dólares (o Brasil ainda não chegou a metade disto). A
partir desta linha, no entanto, há pouca relação entre maiores gastos e
melhores resultados.
O trabalho dá exemplos de países que chegam a investir mais de 100 mil
dólares em cada um de seus alunos, caso de Luxemburgo, Noruega, Suíça e
Estados Unidos. Essas nações, no entanto, não são as que apresentam
melhor desempenho educacional. Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e a
província chinesa de Xangai gastam muito menos, mas apresentam
resultados muito melhores.
Que lição então esses países têm a dar às nações que almejam igualá-las
em termos de desempenho? Para os autores do estudo da OCDE, há duas
características em comum.
A primeira delas é que há um investimento forte na qualidade do
professor, em boa parte explicada pela maior atratividade dos salários
dos docentes nesses países.
Com isso, esses profissionais mais bem qualificados e selecionados
garantem a seus alunos melhores resultados em termos de aprendizado
mesmo quando dão aulas em turmas maiores. O recado, portanto, é claro:
entre investir na qualidade do professor ou na diminuição do número de
alunos por sala, melhor ficar com a primeira opção.
A outra característica comum a todas as nações é que elas trabalham para
que todas as crianças aprendam, não aceitando que nenhuma fique para
trás em termos de aprendizado em relação às demais.
"Países bem-sucedidos no Pisa têm altas expectativas para todos os seus
alunos. Escolas e professores nesses sistemas não permitem que alunos em
dificuldade fracassem. Eles não deixam que esses estudantes repitam de
ano, não os transferem para outras escolas, não tentam segregá-los em
outras turmas baseado em seu baixo desempenho", aponta um trecho do
estudo.
O trabalho, em resumo, revela que dinheiro é importante até um certo
nível de gasto. A partir daí, mais importante do que quanto se gasta, é
saber como se gasta.
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